terça-feira, 1 de julho de 2014

ENTREVISTA: MARCELA FERNANDES - TO THE LAMB

10 anos de estrada e um CD lançado em 2011 (Keys of Treasure). To The Lamb vem se mantendo firmemente na ativa, com seu heavy metal oitentista. Em 2013 chegou a interromper suas atividades. Mas em um ano, Lucky, líder e fundador da banda anunciou sua volta. Logo dois dos antigos membros (Samuka e Silas) retornaram. O guitarrista Ney Rodrigues juntou-se ao trio. Porém, a busca por um vocalista estendeu-se por meses. A espera terminou quebrando certa resistência do grupo. O time foi completado por uma mulher que canta erudito. Algo até então impensável.
Com a entrada de Marcela Fernandes, To The Lamb renasce e se revigora. Traz algo novo, porém, não perde sua característica mais marcante: O heavy metal com suas influências N.W.O.B.H.M., que já não é mais tão popular, mas possui fãs fiéis e exigentes. Com agenda cheia e algumas músicas novas já sendo executadas em shows, To The Lamb já está se encaminhando para o lançamento de um novo CD, onde esta nova fase será devidamente registrada.
Conheça um pouco mais sobre a nova vocalista do To The Lamb, Marcela Fernandes, que gentilmente nos concedeu esta entrevista, Confira!


Por Nelson Paschoa

Você passou por uma situação muito dura com os problemas de saúde do seu marido.  Pode contar um pouco sobre este período?
Marcela Fernandes: Bem, não foi um período nada fácil. Eu reaprendi a orar e falar com Deus, acreditar nele, mesmo sem vê-lo e crer que tudo aquilo que ele me falava seria cumprido. As vezes me achava louca (risos). Muitos me davam os pêsames, e tratavam-me como se meu esposo já tivesse morrido ou tinham a certeza que isso ia acontecer e já tentavam me consolar. Minha vida se resumia em ficar no hospital em uma poltrona de UTI das 22hs às 8hs da manhã todos os dias por seis meses, sem direito a folga, remuneração ou alimentação, conversando e orando com meu marido nas épocas que ele ficava consciente e fora do coma. Líamos a bíblia, orávamos e eu meio que o obrigava a orar pelo menos duas vezes por noite por volta de uma hora cada oração (risos). Eu me fazia de forte e não chorava na frente dele, ria com ele, e falava que estava tudo bem e correndo perfeitamente. Quando os médicos falavam a ele que seu estado era crítico, eu simplesmente falava para meu esposo, que eles eram loucos e não sabiam o que diziam (risos). Sempre procurei ser positiva. Mas ao chegar em casa eu me sentia só, cozinhava só para mim, comia, dormia e antes de ir para o hospital eu ajoelhava abaixava minha cabeça como diz a bíblia, “coloque seu rosto no pó e ore”,  com muitas lágrimas eu orava e DEUS me ouvia. Ia à igreja não como templo, mas em espírito e em verdade, me entregava e ouvia coisas lindas, saia de lá renovada. Foi assim que entendi e aprendi o que é fé, o que é crer e tive a certeza de que Deus existe. Gostaria que todos sentissem e vissem o que eu vejo e os que ainda não viram, parassem de julgar os que tiveram esse encontro com Deus. É muito difícil para uma pessoa que estava afastada de Deus acreditar em um chamado repentino e uma palavra que dizia na bíblia, que agora não me lembro exatamente, que se era da vontade Dele (Deus) que eu fosse e fizesse aquilo que pedia, que ele supriria todas as nossas necessidades. De fato ele supriu. Nada nos faltou e eu tinha forças e fé tão grandes com o passar do tempo que me aconteciam coisas incríveis, como uma vez que eu estava um pouco triste: “Estava na porta do hospital por volta da meia-noite e um Senhor me pediu dinheiro para condução, e eu dei. O Mesmo olhou para mim e disse: Filha você terá uma família linda e será muito feliz. Fique tranquila que vai ficar tudo bem.” Ou como outra situação: Fiquei um ano afastada do mercado de trabalho, possuo outra profissão, contadora tributária. Meu esposo ouvia uma música do Toque no Altar chamada “Restitui” a letra falava que: “O Tempo que roubado foi, não poderia se comparar a tudo aquilo que o Senhor...” Enfim, esse foi um tempo que nos foi roubado mesmo, éramos e ainda somos tão jovens. Um ano se passou nessa história e quando voltei ao mercado trabalho, simplesmente voltei com um cargo e salário melhor do que o que eu possuía (risos). E não foi apenas uma proposta assim que recebi não, ainda pude escolher quais das empresas queria trabalhar (risos).
Bom se eu for contar tudo o que de lindo e mágico aconteceu conosco, vamos escrever um livro (risos).
Tive ajudas espirituais incríveis nessa época, de pessoas distantes que eu nem conhecia, de amigos agnósticos mas que brincavam, riam e diziam: “Ah! Fica tranquila vai dar tudo certo”.
Foi uma época difícil, mas até hoje uso os ensinamentos, a fé e a comunhão com Cristo dessa época. Hoje sou mais paciente, doce, gentil, forte. Entrego tudo nas mãos de Deus, entrego de verdade, persevero mais, tenho muita fé por mim, colegas, amigos e familiares. Aprendi que nem sempre o que importa é sair por cima, as vezes abaixando a cabeça e dando nossa cara a tapa, a gente ganha uma guerra e ainda sai como o mocinho, pois a humildade vence muitas barreiras.


Acredito que essa tenha sido a maior provação de sua vida e também foi o fator que reestabeleceu sua fé. Isto também contribuiu pra você passar a ser uma vocalista de banda cristã?
Sim, 100%. Eu morria de vontade de voltar aos palcos, porém quando me lembrava das noites boêmias que tinha em tempos passados, pensava: “Poxa não é assim que quero voltar, isso não me leva a nada. Quero voltar aos palcos, mas com um propósito ou quero cantar algo próprio com letras que sejam verdadeiras e que transmitam alguma mensagem boa”. Queria cantar, voltar aos palcos, mas queria algo que não me fizesse dispersar daquele que tanto me ajudou e que me ama, então pedi a Deus para preparar algo que me mantivesse em comunhão com ele. Porém não gosto de extremismos cristãos e a To the lamb, caiu como uma luva.



Boa parte das igrejas cristãs, pelo menos há alguns anos atrás, não viam com bons olhos o heavy metal. Como o rock entrou na vida daquela menina que fazia parte dos corais da igreja?
Bom, isso é uma parte engraçada. Meu pai é sertanejo, minha família gosta de samba e minha mãe era o patinho feio, gostava de rock a billy e quando eu era criança dançávamos e cantávamos juntas rock a billy todo final de semana. Meu pai me colocou no coral de uma igreja católica com seis anos e na adolescência eu decidi entrar no coral da igreja evangélica. Na adolescência, época que fazia parte do coral, eu já ouvia algumas coisas de rock como Bon Jovi e Yes, mas estava meio indecisa com o que queria ouvir, só tinha certeza de que outros estilos não me agradavam tanto. Na época era repugnante falar em rock na igreja, mas eu tinha um líder que curtia um som e sempre tentava colocar um peso de guitarra nos louvores, o que muito me animava, Mas a influência maior veio de um namoradinho, namorado de adolescência que eu tinha na época e ouvia rock e comecei a conhecer melhor esse meio. Comecei com algo “leve” como Helloween (risos). Logo depois Iron Maiden e assim foi até conhecer as bandas que mais me atraíram que são as de metal sinfônico e heavy metal. Hoje sou mais eclética quanto aos estilos de música, contanto que seja bom e seja “música”, mas passei por uma época de minha vida de que se eu não escutasse rock e suas vertentes e não usasse preto me sentia mal (risos).
Bom quanto à aceitação do heavy Metal nas igrejas cristãs ainda é um ponto complicado, até aceitam a música, mas muito raramente o estilo de se vestir que temos é bem aceitos. Há preceitos ainda que deve ser mudados e creio que Deus esta trabalhando no coração deles e mostrando que estilo e musica não traduzem salvação e muito menos o que temos no coração.



Quando resolveu fazer canto erudito, pensava em seguir cantando metal?
Sim, já pensava. Na verdade comecei a estudar canto erudito para cantar metal. Comecei a curtir bandas como Nightwish e Epica, devido a isso troquei o canto popular pelo erudito. Por eu ter um timbre de voz com certa potencia e muito aguda, me identifiquei com os vocais usados nessas bandas e muitos me diziam que minha voz era muito parecida com a voz da ex-vocalista do Nightwish, Tarja Turunem, então não pensei duas vezes (risos).



Quais sãos os vocalistas que mais te inspiram artisticamente?
Bom, eu tenho inspirações tanto do meio secular quanto cristão. A vocalista que mais me inspira atualmente é a Floor Jansen, ex-vocalista do After Forever e atul vocalista do Nightwish e Revamp, devido sua extrema versatilidade com a voz. Ela mescla o canto popular, belting e erudito, é uma loucura... Um dia chego lá (risos).
Os demais vocalistas que me inspiram são: Tarja Turunen (Ex-Nightwish), Simone Simons (Epica), Cristina Sacabbia (Lacuna Coil), Lydia Moises (Voz da Verdade), Ronnie James Dio, Bruce Dicknson, André Leite (Iaweh) e Raquel Schuler (Ex-Hydria).



Quais as bandas que vocês fez parte?
As Bandas que fiz parte foram: Lies Of Guardia, Magnfield, Stargazers, Skald e RAC.


Mesmo que na época em que você tinha vida boêmia com estas bandas, pôde colher algo de positivo desta época, que contribui para o seu desempenho hoje?
Claro, com certeza! Aprendi a lidar com o público, a ter uma desenvoltura legal no palco e acima de tudo aprendi que no mundo do Metal temos que ter parceiros, pois sozinhos não chegamos a lugar nenhum. Fiz muitos amigos também que hoje estão me ajudando com a To the lamb em divulgações e shows.


Como conheceu a To The Lamb?
Bom, eu sempre falo que Deus escreve certo por linhas certas (risos). Conheci a To the lamb através de um anúncio procurando vocalista, porém devido a ênfase que havia no anuncio, respondi por responder pois eu tinha certeza de que não iam entrar em contato, afinal o que uma mocinha que cantou lírico a vida toda e fazia cover de Nightwish queria com uma banda de heavy metal oitentista (risos)?


Como foi sua entrada para a banda?
O Samuka entrou em contato comigo pelo Facebook e não sei como ele achou meu Facebook (risos).  Conversamos e logo em seguida falei com o Lucky, que não quis que eu mandasse nada gravado para avaliar, ele queria ver ao vivo a tal mocinha que cantava erudito, cantando heavy metal (risos). Não posso deixar de mencionar que ele me perguntou se eu cantava um heavy metal estilo Paula Toller (risos). Bem, eu achava que ele era um Serial Killer, sério mesmo, fiquei com medo (risos). Mas depois que vi que ele realmente era da To the lamb fiquei mais tranquila. Fui, fiz o teste e dei o meu melhor, porém não criei expectativa. Passados uns 15 dias o Lucky entrou em contato comigo, todo tenebroso, me dando a certeza de que eu não tinha sido aprovada, para no fim da conversa perguntar se eu tinha compromisso para o próximo fim de semana pois uma certa vocalista tinha ensaio marcado com a To the lamb (risos). Coisas de Lucky.


A banda já tem mais de 10 anos de estrada e, até onde sei, nunca cogitaram em ter uma mulher nos vocais. O que acha que levou a banda mudar de ideia?
Bem, sinceramente creio que seja algo de Deus. Às vezes o que deve prevalecer não é nossa vontade e sim a vontade de Deus, ele deve ter algum motivo para isso e acho que essa decisão não partiu da Banda. Apenas seguiram aquilo Deus colocou no coração deles. E deu certo!



O som heavy metal executado pelo grupo, é bem diferente de suas antigas bandas. De alguma forma isto foi provocou algum choque ou incertezas a você?
Não, pois eu já estava procurando um estilo novo. Algo próprio, contagiante e com melodias que não fossem enjoativas. Queria mesmo explorar um novo estilo de vocal, diferente do que eu estava acostumada a cantar. E a To the lamb veio na hora certa.


Houve alguma adaptação das músicas do grupo, ao seu estilo vocal?
Apenas uma música foi adaptada, porém tratava-se de uma composição inédita, que ainda não possuía a linha de vocal 100% desenhada, a adaptação se deu por eu me dar melhor com tons mais altos e para esse caso em específico ficou bem legal essa alteração, fazendo com que a música não perdesse sua essência. Para as demais composições, tanto novas quanto antigas, consegui encaixar meu vocal sem problemas.


A banda já está trabalhando em um novo álbum?
Sim. Em breve começaremos a gravar.


Pode falar algo mais sobre este novo CD?
Já temos duas músicas prontas. O CD virá com uma pegada mais heavy, me ralação ao anterior. Com letras fortes e marcantes. As demais músicas ainda estão em andamento.


Você também compõe? E suas composições podem fazer parte do set-list da banda?
Eu também componho e caso algo se encaixar no estilo da banda, pode sim vir a ser usado.


Obrigado pela entrevista.

Eu que agradeço pela entrevista e por me dar a honra de conhecer uma pessoa tão especial como você. Que além de ser uma pessoa fora de série, é um excelente jornalista, escritor e entrevistador. Também agradeço a Deus pela oportunidade de dar-lhe esta entrevista.



To The Lamb
Formação: Marcela Fernandes (vocal), Silas Gulliver (guitarra), Ney Rodrigues (guitarra), Lucky Santana (baixo) e Samuka Drum (bateria).

Discografia: Keys of Treasure (2011).

Contato:

Fotos: Calebe Castro

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